sábado, 20 de dezembro de 2008

SETEMBROS PARA JÚLIA

Era mês de setembro, o dia nove
O meu frágil coração se comove
Daquele momento eterno e tão puro!
Estavas, tu, castamente vestida
De branco, a doce noiva pretendida
Da incerteza de um brilhante futuro.

Já faz tantos anos, tantos e tantos
Que hoje, na miragem dos entretantos
Somos nós dois, dois felizes avós.
E naquele dia o Padre nos disse:
- Sejam unidos de agora à velhice
Na alegria de viver o amor a sós.

Lembro-me sempre com muita saudade
Quando ainda assim, na pouca idade,
Eu de ti, loucamente, me apaixonei.
Eras uma inocente e meiga morena
Tão carinhosa, tão doce e serena
Eras uma linda princesa. Eu, um rei.

Do céu azulado, lá no infinito
Ornava em luz o teu riso bonito!
Na felicidade das vivas almas.
E eu reinando com todos os desejos
Na força da oração, e nos ensejos,
A nossa lição de amor tu espalmas.

Eu disse:- Oh! Júlia, querida minha!
Já vistes que a tua boca se aninha
Ao primeiro beijo de uma paixão?
Tu, num doce suspiro de leve
Falaste-me com os olhinhos: - E deve
Haver melhor ternura – o coração?

Éramos jovens, duas pequenas ilhas
Éramos dois loucos – as maravilhas
De que somente o amor sabe entender.
Tu, sendo a flor mais linda do ramo!
Eu, num belo soluçar dizendo: Amo!
Depois o teu sorriso renascer...

Passaram-se os setembros. E depois
(Não são tão somente vinte e dois
outros ainda hão de vir, com certeza)
Ta amar, e não saber dos sentimentos
Para dizer a todos, dos momentos,
De buscar a paz na eterna leveza.

Júlia, boa mãe de três lindos filhos
Madona formosa e de raros brilhos!
Donde são os meus versos arrancados.
Há no crepitar do raio, os devaneios,
E na volúpia dos teus tênues seios
Brotam em mim os poemas sagrados.

Se o tempo voltasse, com a razão,
Se pudesse na mesma tentação
Queria começar tudo outra vez.
E se o meu peito comprimir os ais
Por somente te amar – te amar demais
Rasga-me o coração a timidez...

Vem, eu gosto de tudo na recâmara
Onde a tua imagem nasce na antecâmara
De uma sensualidade singular.
E nesse momento não há segredo
Apenas a paixão de não ter medo
Das purezas em que te posso amar.

Júlia, agora neste instante presente
Consternados, já, pois, se faz ausente
Outrem no seio de nosso convívio.
A vida é assim e sê-lo-á eternamente
Na magia e nos mistérios dessa gente
Numa ilusão logo depois do oblívio.

Vem, afoga-me em suspiros e dorme
Em meus ombros nesta noite fria e enorme
Que te velarei com todo o meu esmero.
Não vês?... Dos teus encantos de donzela
Sedutora, amorosa amante e bela!
Eu quero sentir o teu suave cheiro.

Júlia, noutro setembro, o sol em brasas
Nosso prazer veio nas douradas asas
Para acalentar as grandes emoções...
Não te esqueça do juramento nosso
Do mel que a rosa virginal adoço
Juro que não te esqueci nas paixões.

Mas não perguntes nunca se eu te amo
Nem mesmo ao fogo se ainda há chamas
E se a água ali depositada borbulha.
Porque, por ti, vou vivendo de amores
Que pensarão de nós todas as flores
Quando eu lhes disser: - Quero-te Júlia!...

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