sábado, 20 de dezembro de 2008

CONVERSEMOS NA REDE


Na noite, conversemos, não de outra maneira
Senão com alucinados beijos. Sei que,
Ao ronronar da rede preguiçosa, abeira
O meu corpo no teu num intenso prazer.

O beijo dá-se, não se pede e nem se furta.
Beijo-te, então, o desnudado sei, no afã
Do desejo que me adocica ao mel da murta
Enquanto isso, o sol se abrasa pela manhã.

Conversemos na rede, sob a sombra do Ipê
Onde os pássaros têm no canto o lenitivo.
Falemos só de Amor e na escuna entender
A doce sonata do vocal coletivo.

Conversemos na rede enquanto a chuva fria
Enxovalha os teus cabelos, já borrifados,
Pelas gotas esparsas que, durante o dia
Inteiro, caíram sobre os teus seios rosados!

Conversemos, eu quero te dizer e muito
Que sinto com ardor o gozo que conforta.
Como notas suaves ao Dédalo em circuito
Abrigando-nos no batente dessa porta.

Não permita meu Deus, que o silêncio macabro
Esteja na rede a navegar em lago manso.
Mas, que os nautas sejam livres do descalabro
E, sozinhos, se abraçam num belo descanso.

Gosto das redes que me causam pavor e medo.
Gosto dos balanços que me causam tonturas.
E, principalmente, gosto do samba-enredo
Dos movimentos do teu corpo nas alturas.

Manhã – despertar a cada instante – feliz!
À tarde – deitar o pensamento em teu colo.
E de noite – retomar o Amor aprendiz
Enlaçando-me em teus braços a tiracolo.

Conversemos, enfim, sobre nós, os amantes!
Da rede e de todos os lugares exóticos.
No final, o mais feliz sou eu, porque antes
Já te amava nos meus sonhos apoteóticos.


Do livro "Setembros para Júlia"

Nenhum comentário:

Postar um comentário